Esse é talvez um dos projetos pessoais mais importantes para construção da minha voz autoral pós minha profissionalização como ilustrador.
Como podem ver na página de 'Sobre' do site, desde 2015 trabalho com ilustração no mercado e produtos, principalmente em estampas de camiseta através do meu estúdio, a Ilustrata.
Nesse mercado é comum que os próprios artistas lancem de maneira independente suas ilustrações em forma de estampas, e isso traz uma boa oportunidade para explorar suas próprias ideias e sua voz autoral, e eu fiz isso durante anos.
Trouxe minhas ideias, minhas referências visuais, e consegui de uma forma ou de outra encontrar o 'meu estilo'. Mas com o tempo, eu passei a sentir que ele já não era tão 'meu' apenas, era também o estilo do meu estúdio, era de certa forma o meu estilo como profissional. E por mais que fosse algo de fato vindo de mim, parecia que havia se tornado mais minha ferramenta de trabalho, do que minha forma de expressar meus sentimentos.
Por mais estranho que possa parecer, a partir de 2018/2018 eu comecei a sentir que existia uma separação dentro de mim, entre o Bruno da Ilustrata e o Bruno Silva. E foi justamente nesse projeto que eu comecei essa busca por encontrar o que seria o meu trabalho como Bruno Silva.
Para isso fui atrás das minhas memórias, principalmente as de criança. Buscando os temas que me fascinavam naquela época, o que me fazia ser quem eu era. As referências que me cercavam, na condição de brasileiro, negro, interiorano.
A premissa desse projeto veio através de um curso que eu estava fazendo na época, nós os alunos tínhamos que escolher uma história clássica (conto de fadas, literatura, filmes etc) e reformula-la usando referências Brasileiras. Dom Quixote sempre me encantou, desde pequeno quando conheci a história. Pensando um equivalente Brasileiro da figura do Dom Quixote, me veio esse personagem comum do nosso país, os andarilhos.
Pouco tempo antes eu tinha visto algumas entrevista com pessoas que andavam pelo país, simplesmente andavam, há anos. Cada um com sua motivação, mas alguns por devoção a uma santa, outros para pagar promessas, e outros porque era aquilo que trazia sentido pra vida deles.
Eu via o meu Dom Quixote como esse primeiro caso, em devoção a uma musa inspiradora, que nesse caso ao invés de original Dulcinéia, eu optei por uma figura da cultura Brasileira Nossa Senhora Aparecida, ele seguia andando buscando o contato com essa musa espiritual.
Após definir isso, as referências visuais foram surgindo tanto das minhas próprias memórias como criança que cresceu fazendo catequese, frequentando as missas, procissões, e quermesses da igreja. Quanto por buscas externas, procurando por manifestações populares/religiosas que simbolizassem bem essa imagem meio mágica e lúdica que o Dom Quixote traz. Nisso encontrei a Festa de Santo Reis como minha principal inspiração visual. As fitas, as cores, os adornos, tudo se encaixava muito bem com o que eu imaginava para essa reinterpretação.
Foi tão impactante trabalhar nesse projeto que acabei levando muito dos elementos que usei aqui para outros trabalhos pessoais. E de certa forma, com o tempo acho que eu desenhava aqui não só o Dom Quixote mas a mim mesmo.

Estudos de cópia das referências.

Explorações de design de personagem do Dom Quixote e seu companheiro Sancho Pança



Testes de composição da ilustração principal.


Explorações de design de personagem Nossa Senhora Aparecida


